A adoração dos pastores: quando o Anjo anuncia o nascimento de Jesus - Holyart.pt - Holyblog

A adoração dos pastores: quando o Anjo anuncia o nascimento de Jesus

A adoração dos pastores: quando o Anjo anuncia o nascimento de Jesus

A adoração dos pastores: do Evangelho de Lucas ao Presépio, uma história antiga e sempre actual

Já em crianças, aprendemos a conhecer as personagens principais do presépio: a Sagrada Família, constituída por Maria, José e, evidentemente, o Menino Jesus, o boi e o burro encarregados de o aquecer na manjedoura, e os pastores que vieram testemunhar o nascimento de Jesus. Isto porque a adoração dos pastores é um episódio fundamental não só no contexto da Natividade, mas, de um modo mais geral, na história da vinda de Jesus ao mundo, no seu fazer-se homem para a humanidade, no Natal.

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O que torna este episódio, relatado apenas no Evangelho de Lucas, tão precioso e importante é precisamente a identidade dos seus protagonistas. O Filho de Deus acaba de nascer no mundo, ele é o início da realização do projecto divino, o início do caminho que conduzirá a humanidade à Nova Aliança e à Salvação. No Antigo Testamento, Deus falava aos reis e aos profetas, aos patriarcas e aos sacerdotes. Ou enviava os seus mensageiros, os seus anjos, para iluminar as mentes daqueles que deviam conduzir os povos e as almas, para preparar o caminho para a vinda do Messias. Mas, no Novo Testamento, algo começa a mudar. Ainda no Evangelho de Lucas, o Arcanjo Gabriel aparece a Zacarias para lhe anunciar que será pai, apesar da sua idade avançada: dele e de Isabel, sua mulher, nascerá João Baptista. Gabriel dirigir-se-á depois a Maria de Nazaré para lhe pedir que acolha o Filho de Deus no seu seio e que aceite o destino que lhe está reservado; depois, aparecerá em sonho a São José, seu marido, para lhe dizer que não repudie a rapariga, mas que a proteja e ame, a ela e ao Menino que há-de vir.  Zacarias é de facto um sacerdote, enquanto Maria e José são pessoas comuns e humildes, mas destinadas a grandes coisas.

Também no Evangelho de Lucas (Lc 2,8-14), o único dos evangelhos canónicos que menciona o episódio, lemos como Deus decidiu não recorrer a sábios e homens de poder, sacerdotes e profetas para anunciar o nascimento de Jesus. Apareceu-lhes um anjo e “a glória do Senhor envolveu-os de luz”. O anjo disse-lhes o seguinte: “Hoje, na cidade de David, nasceu-vos um Salvador, que é Cristo Senhor. Este é o sinal para vós: encontrareis um menino envolto em faixas, deitado numa manjedoura”. E, imediatamente a seguir, uma “multidão do exército celeste” junta-se para cantar a Glória de Deus. É difícil imaginar algo mais revolucionário! É impossível imaginar a estupefacção destes homens, que não possuíam mais do que os seus rebanhos, ignorantes, sem os conhecimentos que os outros, de categoria superior, possuíam, os estudos a que muitos tinham dedicado toda a sua vida. Lucas diz-nos que “foram tomados de grande temor”, e o seu medo perante um e depois muitos anjos luminosos é compreensível! No entanto, obedeceram sem demora ao convite e partiram receosos, mas decididos a ver aquele Menino tão especial. Seguindo o caminho que o Anjo lhes indicava, “encontraram Maria e José e o Menino deitado na manjedoura. E quando o viram, contaram o que lhes tinha sido dito sobre o menino”.
O episódio termina com o regresso dos pastores ao seu trabalho e à sua vida “glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto, como lhes tinha sido dito”.

Para além da beleza do relato evangélico, o seu significado simbólico é evidente e podemos examiná-lo nos seus vários aspectos. Já o facto de o anúncio do anjo ser feito à noite, o momento em que os homens estão mais expostos, mais vulneráveis, o momento dos sonhos, das reflexões, dos pensamentos, dos medos, das escolhas, faz-nos compreender como nada é acidental no plano divino. Deus envia o anjo para anunciar o nascimento de Jesus à noite, e envia-o a homens que nada sabem sobre ele, homens comuns, simples, inadequados. Mas todo o homem é assim, antes de se encontrar com Deus, e, como é normal, a reacção dos pastores é de admiração e de espanto. A grandeza de Deus eleva-se sobre eles, a sua luz envolve-os, não como algo a ser apenas testemunhado, mas para fazer parte, para se sentirem uma componente infinitesimal, mas preciosa e insubstituível. É assim que o Filho de Deus entra no mundo e na história dos homens, todos prontos a acreditar, a acolher os sinais e as mensagens de Deus e a guardá-los.

Mais tarde, os Magos chegarão também à gruta da Natividade, simbolizando os poderosos, os sábios, aqueles que conheciam as profecias e sabiam da vinda do Messias. A eles caberá anunciar o nascimento de Jesus entre os seus pares, mas os primeiros a adorar o Menino na noite de todas as noites continuarão a ser, para sempre, os humildes pastores visitados por um Anjo descido do céu.