A fuga para o Egipto é um episódio da infância de Jesus. Entre a história e a fé, eis a primeira viagem do Salvador.
Nem todos os Evangelhos canónicos narram os primeiros dias da vida de Jesus de forma precisa e oportuna. Neste artigo, porém, abordamos a fuga para o Egipto, outro episódio marcante, imediatamente a seguir à Natividade, em que aparece a Sagrada Família, mas que é relatado apenas pelo Evangelho segundo Mateus (Mt 2,13-23).
A história é conhecida de todos: os Magos dirigem-se ao rei Herodes, o Grande, pai do Herodes Antipas, futuro tetrarca da Galileia, que um dia será responsável pela execução de João Baptista. Procuram o Rei dos Judeus, cuja vinda lhes foi anunciada por uma milagrosa estrela cometa. Alarmado com este anúncio, Herodes interroga os sacerdotes e os escribas para saber onde nasceu esta criança lendária e, descobrindo que o lugar é Belém, envia os Magos para lá se informarem.
Os três Reis Magos dirigem-se à gruta onde o Menino Jesus repousa na manjedoura, oferecem-lhe ouro, incenso e mirra e prostram-se para o adorar como rei. Depois, avisados em sonho por um anjo para não voltarem para junto de Herodes, voltam a dirigir-se para casa. Também em sonho, um anjo aparece a José, avisando-o para fugir para o Egipto, porque Herodes quer Jesus morto. Assim, José e Maria põem-se de novo a caminho, levando o Salvador para um lugar seguro.
A história da viagem da Sagrada Família para o Egipto tem, no entanto, um trágico epílogo: Herodes, furioso com a traição dos Magos e obcecado por matar o pequeno Rei, lança os seus soldados contra todos os recém-nascidos de Belém. É o episódio tristemente conhecido como o Massacre dos Inocentes.
Tanto a Fuga para o Egipto como o Massacre dos Inocentes inspiraram artistas de todos os tempos. Para o primeiro episódio, pense-se no fresco de Giotto na Capela Scrovegni, em Pádua, ou na obra-prima de Caravaggio; para o segundo, pense-se no fresco de Domenico Ghirlandaio na basílica de Santa Maria Novella, em Florença, ou nas obras de Guido Reni ou Beato Angelico. Os dois acontecimentos são também narrados nas histórias da Vida da Virgem e da Vida de Cristo.
Só depois da matança dos inocentes e da morte de Herodes, o Grande, é que José e a sua família regressam a Nazaré. Lucas, no seu Evangelho, ignora completamente estes acontecimentos, fazendo com que a Sagrada Família regresse a Nazaré imediatamente após a circuncisão de Jesus e os ritos de purificação de Maria em Jerusalém, cerca de um mês após a Natividade.
Relendo a história da fuga da Sagrada Família para o Egipto e do Massacre dos Inocentes, é inevitável pensar no drama dos refugiados e dos migrantes que fogem dos seus países, dos refugiados e dos requerentes de asilo que procuram a salvação da guerra e da violência, mas que se vêem muitas vezes rejeitados, perseguidos, escravizados pelas próprias pessoas que os deveriam ter ajudado. No entanto, Deus está com todos eles, como esteve com José e Maria, está próximo daqueles que sofrem e procuram um lugar onde possam viver em paz, com dignidade, lamentando a sua pátria distante, mas apreciando a sua vida e a dos seus entes queridos como um bem precioso.
O Massacre dos Inocentes
Como muitos episódios das Sagradas Escrituras, o Massacre dos Inocentes foi durante séculos objecto de estudo e de diatribes sobre a sua veracidade histórica. Sabemos por fontes históricas que Herodes era, como muitos dos seus contemporâneos, um rei cruel e impiedoso, que não hesitou em massacrar a sua própria mulher, três dos seus filhos e outros parentes, temendo que lhe usurpassem o poder. Por conseguinte, ordenou também o massacre das crianças de Belém. Mas também pode ser apenas uma história simbólica para ligar o nascimento de Jesus ao de Moisés.
As crianças mortas no Massacre dos Inocentes são recordadas pela Igreja como mártires e a sua memória litúrgica é celebrada a 28 de Dezembro, na Festa dos Santos Inocentes (Die sanctorum Ignoscentum). Esta festa faz parte da Oitava do Natal, ou seja, das festas que se seguem imediatamente ao Natal e que celebram a memória dos homens que estiveram particularmente próximos de Cristo, os Comites Christi, os “seguidores de Cristo”.